Integração energética e mineral do Mercosul ganha impulso
O Ministério de Minas e Energia (MME) realizou, nesta semana, o Seminário de Integração Energética e Mineral do Mercosul, reunindo representantes de Brasil, Argentina, Paraguai e Chile. O encontro teve como objetivo alinhar estratégias regionais para ampliar o uso de combustíveis limpos, fortalecer cadeias de minerais essenciais, discutir o papel do gás natural no desenvolvimento industrial e modernizar as interconexões elétricas.
Os participantes ressaltaram que a América do Sul possui condições únicas para liderar a agenda global de descarbonização, desde que avance de forma coordenada. Entre as prioridades destacadas estão a redução de assimetrias regulatórias, o estímulo a novos investimentos e o fortalecimento de marcos institucionais comuns.
Potencial mineral e conhecimento geológico
O debate sobre minerais estratégicos reforçou que o continente reúne um potencial geológico singular. Transformar esse potencial em cadeias industriais robustas é visto como uma oportunidade histórica para setores como mobilidade elétrica, baterias e tecnologias limpas.
O diretor-presidente do Serviço Geológico do Brasil (SGB), Francisco Valdir Silveira, destacou que apenas 30% do território brasileiro possui mapeamento detalhado — fator que encarece projetos, limita investimentos e atrasa o aproveitamento pleno do potencial mineral. Ele ressaltou que Minas Gerais é hoje o principal mercado mineral do país justamente por ser o território mais estudado e com maior disponibilidade de dados geocientíficos.
Para os países presentes, o exemplo reforça uma diretriz comum: não há competitividade mineral sem conhecimento geológico sistemático.
AMN defende cooperação real
O diretor-geral da Agência Nacional de Mineração (ANM), Mauro Sousa, afirmou que a região só conseguirá transformar seu potencial mineral em desenvolvimento se houver cooperação efetiva, inovação e investimentos consistentes. Ele alertou para o risco de soluções isoladas, lembrando que nenhum país sul-americano domina sozinho tecnologias avançadas, como o processamento de terras raras — campo em que a China acumula mais de 230 patentes após três décadas de investimentos.
“Precisamos harmonizar regulações e atuar como bloco. Não podemos cair na ilusão de que daremos conta de tudo sozinhos”, disse.
“Para atrair capital e internalizar tecnologia, é fundamental construir capacidade produtiva com realismo, cooperação e clareza regulatória.”
Mauro Sousa também reforçou a necessidade de incorporar parâmetros sociais, ambientais e culturais aos projetos. Segundo ele, a integração deve respeitar comunidades locais, povos tradicionais e normas internacionais, como a Convenção 169 da OIT. “Cabe ao Estado garantir segurança jurídica e previsibilidade com protocolos claros”, afirmou.
Chile destaca potencial regional
O embaixador do Chile no Brasil, Sebastián Depolo, ressaltou que as reservas combinadas de minerais críticos dos países do Mercosul superam as de qualquer outro bloco econômico do mundo, criando condições favoráveis para uma estratégia conjunta de desenvolvimento.
Em tom descontraído, sugeriu a criação de uma “bateria latino-americana”, símbolo de uma cadeia integrada capaz de fornecer insumos estratégicos para a transição energética global.
Harmonização regulatória
Os representantes dos países defenderam a padronização de regras, a harmonização de procedimentos e o aprofundamento da troca de informações entre agências, operadores e empresas públicas. A avaliação é de que esses passos são essenciais para destravar projetos, reduzir incertezas e dar escala aos investimentos em energia e mineração.
A retomada do Subgrupo de Trabalho do Mercosul, após dois anos de inatividade, foi celebrada como avanço relevante para a construção de resoluções conjuntas e para o início de comitês temáticos dedicados a gás natural, minerais estratégicos, energia elétrica e sustentabilidade.
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