Investimento e impacto social da mineração

No Brasil, as comunidades vêm exigindo, do setor mineral, cada vez mais transparência a respeito das suas atividades que impactam, inevitavelmente, a região e o território onde atuam. Além disso, as comunidades também nutrem expectativas de benefícios e de garantias que representem os interesses coletivos e sociais.
Neste sentido, as estratégias de investimentos sociais que perdurem no tempo, adotando a articulação produtiva como um sistema de oportunidade e cooperação em atividades de base comunitária, certamente contribuem para o relacionamento sustentável da empresa com a comunidade; entretanto, a vulnerabilidade social é um desafio (e tanto!) a ser vencido.
Com base no exposto, como fazer para atender as expectativas locais e, ao longo do tempo, garantir a autonomia econômica de comunidades, incluindo, para isso, o retorno social dos investimentos realizados? O livro de Pedro Miranda e Marcus Finco trata desses desafios e apresenta uma essencial contribuição para o debate sobre investimentos e impactos sociais da mineração, principalmente se considerarmos o tema diante de uma perspectiva crítica de como os investimentos sociais podem causar transformações perenes e positivas em territórios vulneráveis.
O livro “Investimento e Impacto Social da Mineração” aborda, de forma inédita no Brasil, a avaliação do impacto social e o retorno sobre o investimento de uma iniciativa exitosa que apoiou e estruturou negócios comunitários ao longo da Estrada de Ferro Carajás (EFC), que liga o porto de Ponta da Madeira, no Maranhão, aos municípios de Marabá e Parauapebas, no Pará.

Os autores identificaram que o programa AGIR EFC, da Fundação Vale, contribuiu com impactos estruturais em diferentes aspectos e que são necessários para proporcionar, no longo prazo, o desenvolvimento de comunidades afetadas. Tais aspectos incluem, por exemplo, o combate à condição de extrema pobreza por meio da inclusão socioprodutiva das famílias que estavam envolvidas em atividades informais em um território socialmente fragilizado, marcado pela eclosão de conflitos e de grandes projetos do setor mineral.
Para o autor do livro, Marcus Finco, Head de Sustentabilidade da Inyaga, o programa foi extremamente importante para o desenvolvimento das comunidades ao longo da Estrada de Ferro Carajás. “O programa sempre se pautou na escuta ativa e atuou de modo inclusivo e participativo, permitindo, com isso, o estabelecimento de relações construtivas e sustentáveis entre a rede de stakeholders do território”, destaca.
Os autores destacam que a iniciativa, de fato, causou impacto social positivo e relevante junto ao público atendido. Segundo eles, o programa AGIR EFC contribuiu para o avanço de duas modalidades de sustentabilidade social: a “sustentabilidade do desenvolvimento” pela inclusão socioprodutiva a alívio da condição de pobreza extrema e a “sustentabilidade de manutenção” pela comercialização de produtos da sociobiodiversidade que apoia, por sua vez, a alavancagem econômica de grupos e atores locais importantes.
O trabalho dos autores também demonstrou que o programa AGIR EFC possui significativo retorno social sobre o investimento realizado ao longo dos anos, produzindo resultados e impactos positivos, uma vez que apresentou uma relação benefício-investimento de R$ 2,37 — ou seja, cada R$ 1 investido no programa retornou R$ 2,37 em benefícios sociais para as comunidades envolvidas, o que é um resultado bastante expressivo se considerado o contexto e território em questão.
Um ponto que chama a atenção no enredo do livro é que até o ano de 2015, mais de 400 mulheres aproveitavam, de forma informal, as paradas do trem nas estações para a comercialização dos chamados “bandecos” (refeições prontas) visando a alimentação dos passageiros que faziam o percurso. Como forma de proteger e desenvolver, de forma social e econômica, as famílias em vulnerabilidade que perderiam esta fonte de renda após a mudança do novo trem de passageiros, o programa AGIR EFC incentivou, através do associativismo e cooperativismo o desenvolvimento de novas oportunidades econômicas para estas mulheres, até então conhecidas como “bandequeiras”.

Em uma dessas oportunidades, surgiu a cooperativa “Rede Mulheres do Maranhão”, criada a partir da reorganização dos negócios sociais, e foi responsável por estruturar e profissionalizar a cadeia de produtos da sociobiodiversidade a partir do coco babaçu, fruto abundante na região da Amazônia maranhense. Através dessa reestruturação, novos mercados foram acessados e o trabalho se transformou em uma excelente atividade econômica para as mulheres, chegando até a exportação de produtos para países europeus.
Marcus Finco destaca que o programa AGIR EFC foi uma inovação social, pois ao mesmo tempo que apresentou a capacidade de mitigar ou até mesmo eliminar riscos corporativos, como interdições na Estrada de Ferro Carajás em função da mudança no trem de passageiros, também gerou enorme valor social às comunidades.
“A diminuição da extrema pobreza no território por meio de ações que contemplaram a escuta ativa e a construção coletiva, bem como a estruturação de negócios que promoveram inclusão produtiva e geração de renda às famílias envolvidas, consolidou novas formas de relacionamento entre a empresa e as comunidades, antes conflituoso e agora virtuoso”, conclui o autor.
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